A educação não é um
simples processo de intermediar conhecimento, mas sim, um processo educativo
que tem como base as trocas de saberes. Um ponto importante nesse
compartilhamento de conhecimento é a forma de como o mesmo ocorre. Nesse
sentido as relações interpessoais se fazem necessárias para uma prática
transformadora.
Na relação em sala de aula o
professor precisa saber fazer e, sobretudo, saber ser, entretanto, nota-se que
as relações sociais estabelecidas atualmente, vem deteriorando a humanidade dos
seres, o que acaba evidenciando a importância das relações interpessoais na
formação cidadã.
Essa formação vem com o principio de
transforma a escola em um espaço de encontros que ocorrem em função do convívio
entre pessoas de diferentes identidades, apesar de interligadas em um mesmo
ambiente social e cultural. Pois o que
prevalece nas relações interpessoais é a igualdade perante as diferenças, é o
respeito pelo o outro. Tendo em vista que quando não se parte deste principio
de fraternidade, a sociedade rouba a essência humana, e ao cometer tal crime,
destrói a vocação do sujeito em ser mais. Como afirma Freire (2005, p.32), ao
defender uma educação libertadora: “a desumanização, que não verifica apenas
nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente,
nos que a roubam, é distorção da vocação de ser mais”.
É por isso que o texto de Morais
(2007) se baseia nos estudos de desenvolvimento interpessoais, portanto, no
processo de interação humana, no chamado encontro social.
Nessa conjuntura, ao desenvolver uma
relação interpessoal libertadora, a humanidade distancia-se do que Freire
(2005, p.33), afirma sobre aqueles que não reconhecem no outro a sua
humanidade.
estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não
podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem em si mesmo. Só
o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para
libertar a ambos”. E sendo assim, “a “ordem”, social injusta é a fonte
geradora, permanente, desta “generosidade” que se nutre da morte, do desalento
e da miséria.
Essa afirmação de Freire (2005)
traduz uma educação descompromissada com o processo permanente de interação e
um profissional que não tem em sua essência uma percepção acurada e realística
das situações interpessoais e de habilidades específicas comportamentais que
conduzem as consequências significativas no relacionamento duradouro, autêntico
e satisfatório para as pessoas envolvidas.
Além disso, como se pode observar na
fala de Freire, a ausência das relações interpessoais gera uma falsa relação
entre os indivíduos, o que o autor chama de “generosidade”, promovendo a
reprodução de um sistema alienador e perverso que destrói os sentidos inerentes
ao sujeito humano, comprometendo o seu desenvolvimento educacional, social e
cultural pertencentes.
Diante das reflexões aqui expostas, nota-se
que o filme: “Entre os muros da escola”, nos evidencia que assumir tal
concepção educativa, esta se tornando cada vez mais difícil, tendo em vista, as
relações que vêm sendo constituídas na contemporaneidade. “Entre os muros da
escola”, é um texto fílmico que evidencia o processo de precarização existente
nas escolas e nas relações interpessoais que envolvem os atores escolares. A
sua construção textual não parte de uma lição de vida e muito menos de uma
história baseada em fatos reais, no qual, o professor mudou a vida dos alunos.
O filme coloca para os telespectadores, a discussão dos problemas escolares
fundamentado no campo da realidade social, ou seja, ele mostra um abismo que existe entre os indivíduos que por serem vistos como
desiguais e não como diversos tornam-se estranhos e de natureza duvidosa como
já descrevia Hobbes em seu livro “o Leviatã”.
Ambientado
em uma escola pública, localizada na periferia de Paris, o filme retrata o
cotidiano de uma turma, que se estivesse inserida no sistema educacional
brasileiro, estaria cursando os anos finais do Ensino Fundamental. Assistindo o filme pela primeira vez, o
telespectador realiza a leitura de que o filme foca a relação dos alunos com o
professor e os métodos utilizados por este para tentar contornar os inúmeros
conflitos que surgem a todo instante. No entanto, o diretor do filme, o francês
Laurent Cantet em entrevista a UOL (2009) ao responder o questionamento se o
filme era sobre educação, afirma que:
“Não, ele
vai além disso. Atravessamos os muros da escola para falar da sociedade nos
dias de hoje, das relações humanas, da noção de autoridade, não só através da
figura do professor, e de como as pessoas se colocam diante dessa autoridade. O
filme também aborda o fato de pertencer a uma comunidade. O que isso significa?
Como crescemos? Como transitamos entre tantas culturas diferentes? São questões
que não fazem parte apenas do universo escolar, apenas um microcosmo num
contexto maior.”
Ao percorrer os espaços
escolares e evidenciaras relações entre professores e alunos, observa-se o
retrato atual de sucateamento que atingi as escolas públicas e as relações que
ao invés de diminuir os contrates, reforçam as desigualdades sociais.
Nota-se também, que o papel
do professor ao longo do tempo foi vulgarizado, comprometendo a importância
deste profissional para o desenvolvimento educacional. Além disso, percebe-se
que os problemas sociais não resultam de uma cultura regional, sendo suas
dimensões de ordem geral.
O
processo educativo é uma atividade permeada de subjetividade, o que implica o
estabelecimento de práticas educativas que enalteçam a diversidade e as trocas
de experiências e vivências entre os indivíduos envolvidos. Nesse sentido “a
educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a
condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão” (MORIN,
2011, p.65).
Desta
forma, analisa-se que o ponto chave do filme são os conflitos que as relações
de intolerância entre as instituições sociais e a sociedade, são camufladas por
políticas públicas ditas como eficazes e qualitativas. Por não termos
princípios pautados no respeito e justiça, tem-se vivido um aumento crescente da
violência em todas as esferas sociais, inclusive nas escolas, por não termos
uma política pública realmente compromissada com o desenvolvimento educacional
dos cidadãos.
Referências Bibliográficas
FREIRE,
Paulo. A Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREIRE,
Paulo. Educação e Mudança. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1979.
MORAIS, Maria de Lourdes
Cysneiros de. Relações interpessoais na
formação do educador: uma visão psicopedagógica, fev. 2007.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma,
reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2003.
STIVANIN, TAÍSSA. Diretor
fala sobre 'Entre os Muros', filme indicado ao Oscar que retrata nova sociedade
francesa. UOL: 2009. Disponível em:< http://cinema.uol.com.br/oscar/ultnot/2009/01/30/ult4332u980.jhtm>
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